quarta-feira, 14 de março de 2018

MEU TEXTO EM CONTOS URBANOS 2018/CBJE

Isabel Cristina Silva Vargas
Pelotas / RS


Ela ama o amor

Matilde morou com sua mãe quando era jovem. Só as duas. Conheceu uma pessoa com quem teve dois filhos. Deixou a mãe e morou com esta pessoa. Como ela trabalhou antes de conhecê-lo, quando os filhos estavam mais crescidos, deixou-os com a mãe e foi trabalhar. Os filhos foram, praticamente, criados pela avó. Meio à solta, é bem verdade, mas com amor.
Ele, Horácio, quando conheceu Matilde já tinha filhos de outra relação. Mais de um.
Ao separarem-se, um tempo depois ele juntou-se com outra. Teve mais filhos.
Os anos passaram-se, dos dois filhos de Matilde, só o menino estudou, fez curso superior, pós-graduação, trabalhou como professor e, posteriormente, virou pequeno empresário.
A menina não chegou a concluir o ensino médio. Houve um período que foi embora de casa, teve uma filha e outros relacionamentos abusivos, até apanhando do companheiro.
Devido à suas carências afetivas, não escolhe com apuro os relacionamentos. Basta um pouco de atenção e ela já está envolvida. Não se relaciona bem com a família.
Matilde, quando a mãe envelheceu voltou a morar com ela, e, em função de sua enfermidade, cuidou da mãe por longos anos.
Quando a mãe faleceu, sentiu-se muito só, deprimida, até procurar integração em grupos de terceira idade.
Como é de fácil comunicação, voltou a sentir-se uma menina de quinze anos. Ia à bailes com o grupo durante a semana e nos finais. Dançavam muito, conhecia pessoas de outros grupos. Namorou! Sentia-se nas nuvens. Viajou, apresentava o amor à todos.
Assim como o amor veio, ele foi embora, rápido demais. Lá estava ela, novamente só.
Mas, como quem procura sempre alcança, ou, quase sempre, alguns poucos meses estava apaixonada de novo e morando em outra cidade com o novo amor.
Um mês depois ela voltou para casa. Conheceu outro. Mas, foi dissuadida  por amigas a não investir na relação, afinal, ele estava quase moribundo no hospital. Custou a convencer-se. Entretanto, entre bailes nas quartas, sábados e domingos ela achou alguém que assim como ela, amava o amor. Era viúvo mais de uma vez.
Logo fizeram planos, ele foi morar na casa dela e assinaram até documento em cartório.
Continuou indo à bailes, mas ele preferia ficar em casa à noite, ela gostava de assistir televisão, ele queria dormir cedo, ela queria passear, ele economizar, ele queria que ela não fosse tão comunicativa e o obedecesse em seus ditames.
Não fazia nem quarenta e cinco dias do enlace ela chegou à casa, ele tinha juntado tudo que era dele e ido embora de vez porque ela não o obedecia.
Matilde continua buscando o amor para o restante da vida...


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